Pesquisa desenvolvida pelo pesquisador da Laspau, organização afiliada à Universidade Harvard

Por que alunos que frequentam a mesma escola e têm aulas com os mesmos professores obtêm desempenho escolar diferente? Para tentar esclarecer essa questão, o antropólogo James Ito-Adler, presidente do Instituto Cambridge para Estudos Brasileiros e pesquisador da Laspau, organização afiliada à Universidade Harvard, nos Estados Unidos, entrevistou 24 estudantes do 9º ano do ensino fundamental em três estados brasileiros.
Embora não tenha valor estatístico, a pesquisa, realizada entre março e junho deste ano, foi a fundo na conversa com os estudantes, em entrevistas que duraram horas. O produto do levantamento ajuda a compreender a diferença de performance. Por exemplo: estudantes que possuem boas notas, em geral, sabem lidar melhor com a bagunça dos colegas em sala de aula, "aprenderam a aprender", dominam a internet, planejam o futuro e recebem motivação dos pais.
A pesquisa foi encomendada pelo Instituto Positivo, organização sem fins lucrativos voltada à promoção da educação, e teve caráter qualitativo. Isso significa que seu resultado não é válido para toda a população brasileira. Mas suas observações trazem insights que podem ajudar pais e educadores.
Para o estudo, os estudantes foram divididos em três grupos, conforme o desempenho obtido em avaliações: baixo, médio e alto. Confira a seguir diferenças apontadas entre alunos de alto e baixo desempenhos:
1- Driblam a bagunça na sala de aula
De acordo com as estratégias alegadas,as meninas, principalmente, disseram que trocam de lugar e sentam na frente quando o barulho do ‘fundão’ começa a incomodar. Outros alunos procuram o professor após a aula para tirar dúvidas ou complementar a explicação que foi prejudicada por conversas. Há ainda os que buscam auxílio dos colegas ou pesquisam por conta própria para entender o conteúdo da aula. Isso não se verifica entre os demais alunos. Ou eles se integram à bagunça ou ficam reféns dela, não entendem o conteúdo e vão mal nas avaliações."
2- Aprenderam a aprender
É evidente que, ao estudar, todos têm capacidade de aprender. Há um fator, no entanto, que é importantíssimo para o sucesso escolar: aprender a aprender. A maioria dos alunos com bom desempenho gosta de ler livros e publicações variadas, tem prazer em realizar pesquisas e procurar explicações para questões complexas.
Um aluno passa mais tempo fora da escola, em situações informais de aprendizagem, do que em situações formais — diante do professor ou consultando um livro. Por essa razão, os pesquisadores afirmam que é fundamental que os alunos desenvolvam consciência da necessidade de "aprender a aprender" — não apenas na escola, é claro, mas em qualquer situação.
3- Dominam a internet
O estudo indica que alunos com boas notas utilizam a internet para fazer pesquisas, tirar dúvidas com os colegas e também assistir a videoaulas. O mesmo não se pode dizer dos alunos com desempenho inferior à média. Não raro, para eles, a internet é vista como uma chance de escape do mundo real. A pesquisa cita a fala de uma aluna para exemplificar o bom uso da web:
"Alguns dos estudantes com desempenho ruim são escravizados pela internet: chegam a ficar oito horas por dia em frente ao computador. Para os que têm rendimento melhor, a rede não deixa de ser instrumento de lazer, mas é também ferramenta eficiente de aprendizado."
4- Planejam o futuro
Outra diferença entre os alunos está na relação que eles estabelecem com o futuro: os de melhor desempenho acadêmico mostram-se mais otimistas que os demais. Além disso, aceitam responsabilidades, acreditando que elas servirão para o seu próprio progresso e criam relações de apoio mútuo com colegas de classe e adultos para o planejamento e realização de seus sonhos.
5- São motivados pela família
Para o aluno se sair bem na escola, ele precisa de motivação. O estudo cita o caso de uma aluna de ótimo desempenho escolar, cujos pais não têm ensino superior e levam uma vida bastante modesta: "De manhã a aluna faz entregas de salgados, ajuda na limpeza da casa e estuda um pouco. No período da tarde, ela vai para a escola. Ela contou: ‘Eu vejo a minha mãe, que se esforça muito, acordar às 4h para fazer as coisas, comprar material, me dar uma vida boa. Meu pai também dá duro. Se eu não me esforçar, o que eles vão pensar?'."
"Um aluno motivado tem mais facilidade para superar fatores negativos que podem comprometer seu rendimento, como questões familiares e financeiras. Percebemos que os melhores estudantes tinham uma espécie de mentor ou alguém em quem se inspirar, mesmo que sem um nível formal alto de escolaridade."
A partir da pesquisa apresentada, percebe-se os artifícios utilizados por esses alunos para obter um rendimento escolar satisfatório, contribuindo também para sua futura formação acadêmica, pois, todo esforço feito é refletido futuramente nas conquistas desses alunos, seja no mercado de trabalho, seja na vida.
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